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A Favorita

Blog sobre a novela A Favorita

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A Favorita

15
Jan09

"Às vezes jogam-me coisas na cabeça"

Tititi

Nenhum dos personagens que fez antes na TV levou Ary Fontoura a tantas reflexões quanto o dissimulado Silveirinha, de A Favorita. "Eu nunca lidei tanto com o lado negro do ser humano como nesta novela", justifica o actor de 75 anos, 43 deles de trabalhos ininterruptos na Globo.

Em uma carreira com tantos personagens de destaque, Ary já experimentou as graças e desgraças do sucesso. "O seu Nonô de Amor Com Amor Se Paga foi o mais popular. Mas eu tive de pedir para a autora diminuir minha participação porque ganhei uma úlcera de tanto estresse", recorda o actor, sobre o folhetim que fez em 1984.

E ainda veio o Florindo Abelha de Roque Santeiro, de 1985, o Arthur da Tapitanga de Tieta, em 1989... Agora, com Silveirinha, ele recebe uma reação paradoxal por parte do público. É abordado por pessoas que pedem para ele parar de praticar maldades.

Mas por outro lado, vê que nem mesmo as crianças têm medo das vilanias que pratica em A Favorita. "Como já fiz muita coisa na TV, me vêem como um actor antigo e querem cuidar de mim", explica. O que não o livra, no entanto, de enfrentar situações inusitadas em estádios de futebol, por exemplo.

"Vou muito a jogos e gosto de ficar na arquibancada. Às vezes me jogam alguma coisa na cabeça. Mas depois que a partida começa, esquecem do Silveirinha", conta Ary, com ar de satisfação.

Você até abriu mão de suas férias para interpretar o Silveirinha. Lá no início, o que chamou a sua atenção na sinopse do personagem?
O pouco que sabia do personagem - um ex-empresário de uma dupla sertaneja - eu achei interessante, apesar de indefinido. Não sabia que ele seria vilão e aceitei porque disseram que apareceria pouco na história.

E como é, do meio da novela para cá, ser tão requisitado e aparecer em quase todas as cenas?
Estamos trabalhando de uma maneira bem rígida. Há muita cobrança quando se faz uma novela das oito. Às vezes, não consigo sair do personagem. Na profissão de ator, tudo é saber fingir. Mas a gente lida com sentimentos. E, em algumas cenas, esses sentimentos são tão fortes que marcam profundamente. Você não consegue fazer mais nenhuma cena, mas ainda tem 10 pela frente. O Silveirinha me leva a muitas reflexões.

Quais?
Paro para pensar em como o ser humano é, em como as pessoas resolvem suas vicissitudes. Ninguém é só mau ou só bom. O Silveirinha é humilhado, ofendido, mas também ofende e humilha. Há rancores que nunca foram resolvidos porque ele premeditou um belíssimo futuro e errou. Isso mostra que na vida não dependemos apenas de nós mesmos. Tudo é diálogo. Quando as pessoas se esquecem disso, e o Silveirinha se esqueceu, o caminho fica aberto para alguns valores desprezíveis, como o rancor e a raiva. Nunca lidei tanto com o lado negro do ser humano como estou lidando nessa novela.

O crescimento do personagem no folhetim surpreendeu você?
Isso é resultado de um trabalho feito cuidadosamente, com bastante paciência. Sempre que se faz uma novela a gente tem de deixar uma infinidade de possibilidades para o autor criar em cima e a gente desenvolver ainda mais. Como essa é minha 45ª novela, tenho experiência nesse sentido. Nunca conduzo meu trabalho de maneira fechada. Novela é um produto que vive do gosto do público e varia de dois em dois meses. O ator precisa ficar atento.

Em sua novela anterior, Sete Pecados, seu personagem também ganhou importância no decorrer dos capítulos. Atores experientes como você são a salvação para novelas frágeis ou inconsistentes?
Não vejo assim. Em Sete Pecados o personagem cresceu de maneira diferente. A história de um amor fora de época, em uma idade mais avançada, era interessante. Abracei aquilo com entusiasmo e a Nicete Bruno, que era minha parceira, também.

A maioria dos telespectadores concluiu que essa história era verossímil e daí veio a repercussão. Mas em A Favorita o personagem foi sendo construído a partir das várias etapas que a novela teve. Não acho que a novela ou os autores passem por uma crise, como dizem por aí. O que acontece é que o mundo está mudando muito e as pessoas estão com certa dificuldade de acompanhar o que acontece por causa da pressa de hoje em dia. Não conheço o João Emanuel Carneiro pessoalmente, por exemplo.Mas acho que ele sabe muito bem o que quer e o Silveirinha já é um dos ersonagens mais importantes de minha carreira.

Você também já se decepcionou com personagens?
Vários personagens que fiz não foram aproveitados como deveriam, mas o problema não foi meu, foi do autor. Alguns autores perderam a oportunidade de me fazer desenvolver um bom trabalho. Ator é um instrumento do autor.

Aos 75 anos, 60 deles dedicados à atuação, e em sua 45ª novela, ainda há muita coisa que você não conseguiu realizar?
Vivo do presente, do passado só recolho o que foi bom e não planejo personagens para o futuro porque o amanhã não me pertence. Nunca deixei de trabalhar na Globo, onde estou há 43 anos. Já estou escalado para um próximo trabalho, Caras e Bocas, com um personagem completamente diferente do que faço agora. Sempre haverá espaço para os atores veteranos e não acho que nossa profissão seja cruel com os mais velhos. As histórias precisam de tios, avôs... Não tenho do que reclamar.

Em toda sua trajetória, houve momentos de dificuldade?
Sim, períodos de ausência de trabalhos, por exemplo. Nessa profissão você mata um leão por dia e há épocas em que os convites não surgem. Mas sempre fui movido pela filosofia de que é preciso lutar para chegar lá. Mas chegar lá onde? Porque quando você alcança determinada coisa já está logo querendo outra. Apesar dessas adversidades, no entanto, nunca me decepcionei porque sabia tudo o que podia me acontecer.

Pessoas à minha volta sempre me chamaram a atenção para as dificuldades. No fundo, sou um operário que procura fazer o seu produto da melhor maneira. O meu compromisso é com o público. Só sou ator porque o público me aceita.

E como o público reage às maldades do Silveirinha?
Fiz o Sítio do Picapau Amarelo por três anos e meio e as crianças me adoravam. Era Coronel Ludovico para todos os lados. Então, pensei: "com o Silveirinha praticando tanta maldade, esse público não vai mais me dar atenção". Mas as crianças não têm o menor medo de mim (risos). No shopping, já ouvi mãe dizendo para a filha parar de chorar porque senão vai chamar a Flora.

Se disser que vai chamar o Silveirinha, não vai acontecer nada. Não entendo muito esse processo, mas acho que as pessoas me olham e cuidam um pouco de mim. Sou um ator antigo, muito visto em diversos papéis, então as pessoas são carinhosas. Depois de Sete Pecados, veio gente dizer para eu não fazer esse tipo de personagem porque o Romeu foi muito bom. Mas eu explico que preciso exercitar uma série de valores para minha profissão não cair na monotonia. As pessoas aceitam, mas pedem para eu fazer um bonzinho na próxima.

Ilustre desconhecido

Ary Fontoura começou a fazer cinema em Curitiba, cidade onde nasceu em 27 de janeiro de 1933. No Sul, já era um ator conhecido, mas quando se mudou para o Rio de Janeiro com a intenção de investir na carreira de ator, não passava de um desconhecido. "Comecei como figurante.

A primeira novela que fiz foi na extinta TV Rio. Era Os Desconhecidos, do Nelson Rodrigues", relembra o veterano. O primeiro grande sucesso, no entanto, só viria em 1970, com Assim na Terra Como no Céu, já na Globo.

De lá para cá, o ator somou personagens de imenso destaque. Desde os mais antigos Baltazar Camará, de O Espigão, em 1974, e o lobisomem Aristóbulo Camargo, em Saramandaia de 1976. Até figuras mais recentes de grande repercussão como o Pitágoras de A Indomada e Porto dos Milagres, nas décadas de 90 e 2000.

"Todo mundo que fala mal da TV é porque não está dentro dela. A receptividade do nosso trabalho é excelente", simplifica. Apesar de fascinado pelas companhias de teatro que frequentavam sua cidade desde pequeno, Ary afirma que nunca teve modelos ou ídolos na profissão. "Egoisticamente eu me baseio sempre em mim nessa carreira", resume.

Sem ressentimentos

Foram tantos tipos diferentes na carreira de Ary Fontoura mas, até pouco tempo, ele não tinha na sua lista de personagens um galã. "Nunca me incomodou essa posição. Eu sou um cara simpático, mas não sou bonito", assume o actor. Os papéis que caiam em suas mãos eram sempre de fragilizados, esquisitos ou vilões. "Quando eu fazia o romântico, era sempre vivendo um amor platónico", confirma.

Apesar de não procurar, o que parecia impossível por causa da idade aconteceu em 2007, na novela Sete Pecados, em que interpretou Romeu e fez par romântico com Nicete Bruno. O casal caiu no gosto do público e roubou a cena.

"Fiz um Romeu aos 75 anos. Nunca batalhei por isso, mas sempre soube que conseguiria fazer porque tenho sentimentos, apesar de não ter o porte do galã", valoriza Ary.

E vejam a foto do novo visual de Donatela que apareceu hoje na internet! Pronto, o meu cabelo já não está igual ao dela, mas eu acho que o aumento ficou-lhe muito bem, o que acham?

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