Iran Malfitano finalmente deu um tempo dos sucessivos galãs nas novelas. Com cabelo comprido e desgrenhado, ele se diverte na pele de Orlandinho, um piloto de Fórmula 3 gay e mauricinho em A Favorita. O personagem seria apenas uma participação nos primeiros capítulos da trama de João Emanuel Carneiro, mas acabou caindo nas graças do público.
O que mais intriga o actor no personagem é que Orlandinho faz tudo para conquistar o interesseiro Halley (Cauã Reymond). Na verdade, ele não consegue perceber que o falso gay só está de olho em sua conta bancária.
"Em Kubacanan eu era o cara bonitão, mulherengo, de peito cabeludo. Em Malhação, fiz o bom moço Guilherme. Com o Orlandinho, é diferente. Ele é um homossexual com conflitos profundos", valoriza o actor.
Para Malfitano, Orlandinho é um marco positivo em sua carreira porque foge dos tipos que já fez. Ao mesmo tempo que denuncia o preconceito presente nas altas classes sociais. E mostra um homossexual carinhoso que, muitas vezes, exagera no tom na interpretação e até beira a caricatura.
"Muitos homossexuais sofrem porque nosso País ainda é muito preconceituoso. E o pior é a condenação da família", lamenta.
Ao escolher moldar o personagem de maneira mais contida, Malfitano explica que a proposta da trama é da descoberta da homossexualidade.
"Não quis fazer um personagem afetado, cheio de trejeitos. Até porque a intenção é de que o personagem se descubra aos poucos", defende. "Estou tentando fazer um alguém que não sabe exactamente o que quer, que não sabe em que terreno está pisando", argumenta.
Quando saiu de Malhação e foi fazer novelas, ele foi contratado para o elenco de Kubanacan exactamente pelo seu biotipo moreno de peito cabeludo. O actor também fez Mac Mac, em Bang Bang, depois de Kubanacan. Ou seja, continuava na mesma linha de galãs que viviam descamisados, com o torso à mostra.
"Em Kubanacan o Lombardi queria alguém que tivesse peito cabeludo para ser o filho do Humberto Martins. Graças a isso, pude mostrar meu trabalho", lembra.
No entanto, o que mais impressiona o actor é que as pessoas ainda comentam sobre o Guilherme de Malhação. "Meu pai às vezes brinca comigo, falando que o Gui vai virar uma marca na minha carreira. Mas não me incomodo, acho que fiz bem feito".
Mesmo se deliciando em interpretar homens bonitões e sarados, o actor jura ter se divertido com a série Donas-de-Casa Desesperadas, na Rede TV!, durante o tempo em que ficou fora da Globo.
"Foi bom porque nesta época o Lombardi continuou vendo meu trabalho e me chamou para trabalhar novamente com ele", comemora. "Acho saudável sair de uma emissora onde você começou, fazer trabalhos fora, descobrir que anda com as próprias pernas e voltar".
Apesar dos personagens homossexuais estarem cada vez mais presentes em novelas com um cotidiano absolutamente comum, como o de outros personagens, a intenção do Orlandinho é carregar no humor em suas cenas. Por isso, o personagem está presente no núcleo cómico da novela.
"É bom fazer parte destes núcleos porque todo mundo fica esperando a palhaçada", brinca. E ratifica seu argumento explicando que, em épocas anteriores, existiam mais novelas engraçadas, sem tanto realismo, em que era possível se deleitar com a trama e apenas rir.
"Podíamos descansar dos problemas diários. Hoje, com tanta crueldade, ainda bem que existem os núcleos cómicos para que as pessoas esqueçam da complexidade da trama e se divirtam".